A SANTA MÃE SOBRE OS PROBLEMAS HUMANOS - Ramakrishna Vedanta Ashrama

05.11.2024 14:32 Por Ramakrishna Vedanta Ashrama

A SANTA MÃE SOBRE OS PROBLEMAS HUMANOS

​POR SWAMI CHETANANANDA


SANTA MÃE SRI SARADA DEVI



Introdução


Uma vez, perguntei ao Swami Ishananda, um discípulo e atendente da Santa Mãe: “Swami, você viveu com a Mãe por quase onze anos. Poderia me contar qual a diferença entre ela e as outras mulheres de nossas famílias?”. O Swami pensou um pouco e então respondeu: “Você já viu alguma mulher em sua vida que seja desprovida de desejo? A Mãe não tinha nenhum desejo. Veja, os seres humanos têm desejos e apenas Deus é sem desejos. Ela era uma Deusa”. Quando um ser divino nasce como ser humano, Ele ou Ela age como ser humano. Tradicionalmente, a vida da mulher passa por quatro etapas: filha, irmã, esposa e mãe. A Santa Mãe preencheu cada um desses papéis com perfeição. Ela foi, de fato, um ideal universal de mulher.

 

Às vezes, algumas mulheres vêm a mim compartilhar seus problemas. Eu digo para elas: “Quantos problemas você tem? Leia a vida da Santa Mãe e verá quantos problemas Ela tinha e como os enfrentou. Tenho certeza que, se comparado às dificuldades dela, seu problema é insignificante. Você está passando por problemas apenas com uma família, Ela se deparou com inúmeros problemas enfrentados por centenas de famílias. Ela enfrentou a pobreza, doença e perdas, foi maltratada por seus parentes, aguentou a loucura de sua cunhada, da sobrinha Radhu e de alguns devotos. É maravilhosa a maneira com a qual Ela lidava com todos aqueles problemas calmamente, com amor, compaixão, paciência e perseverança. Precisamos aprender com Ela como resolver os problemas humanos”.


Problemas de adaptação às circunstâncias


Temos tantos atritos e desentendimentos entre nós que perdemos nossa paz de espírito, e às vezes sofremos com medo e ansiedade. A maioria dos nossos problemas surge devido à falta de comunicação e fé mútua. Podemos resolver muitos de nossos problemas através da franqueza, humildade e nos adaptando para se adequar às circunstâncias. Sri Ramakrishna ensinou à Santa Mãe: “Por favor, adeque-se de acordo com o momento, o lugar e a pessoa”.

Sri Ramakrishna ensinou à Santa Mãe: 

“Por favor, adeque-se de acordo com o momento, o lugar e a pessoa”.

O quartinho da Santa Mãe em Dakshineswar, era muito pequeno e baixo.[1] Muito provavelmente, a Mãe media aproximadamente 1,67m de altura, e Ela tinha que passar por uma porta muito baixa. Ela se recordava: “A porta  era tão baixa que, no começo, eu batia a cabeça no batente de cima. Um dia, fiz um corte na cabeça. Depois me acostumei. A cabeça já abaixava sozinha assim que eu chegava perto da porta”.



[1] No original, as medidas são dadas em polegadas.

Quando Ela lá morou, não havia banheiro ou qualquer tipo de instalação disponível. Além disso, o jardim do templo era um local público e não havia privacidade para as mulheres. A Santa Mãe era extremamente tímida e recatada. Ela se mantinha com um véu para que ninguém que Ela não conhecesse pudesse ver seu rosto. Durante as horas escuras da manhã, Ela ia para a pequena selva na margem do Ganges para atender ao chamado da natureza e depois tomava banho no rio. Uma vez, bem cedo na escuridão da manhã, Ela quase pisou num jacaré. Mais tarde, Ela relembrou  sua situação: “Sofri muito por reprimir a vontade do chamado da natureza e por isso adquiri um problema físico. Apenas nas horas escuras da noite eu podia ir”. Que desconforto! Mais tarde, Yogin-Ma (uma devota do Mestre), percebendo sua situação, fez com que fosse construído um banheiro perto de suas acomodações. A Santa Mãe passou por todas essas dificuldades para servir o Mestre.

Certa noite, quando a Mãe estava com uns vinte e quatro anos, Ela estava voltando para Dakshineswar com algumas pessoas, mas não conseguiu acompanhá-las. Estava exausta e por isso teve que atravessar sozinha um campo em Telo-Bhelo, quando  então foi abordada por um ladrão. Ela não conseguiu correr ou gritar por socorro, nem sequer poderia lutar com ele ou suborná-lo. Como Ela se adaptou destemidamente e essa situação! Ela imediatamente estabeleceu uma relação com ele ao dizer: “Pai, sou sua filha, Sarada. Meus companheiros me deixaram para trás. Talvez eu esteja indo na direção errada. Seu genro mora no templo de Kali, em Dakshineswar. Estou indo para lá. Por favor, acompanhe-me até lá. Ele certamente apreciará muito sua gentileza e o tratará com a devida cortesia”. De que maneira maravilhosa Ela fez aquele ladrão se sentir parte dela!

Com relação às relações interpessoais, o Mestre disse para Hriday (seu sobrinho): “Você deve ter paciência comigo, e eu devo ter paciência com você, assim, tudo ocorrerá bem. Caso contrário, teremos que chamar o gerente para tratar de nossas diferenças”. A Mãe aprendeu essa bela característica com o Mestre. Seu inegoísmo, amor, doçura e modéstia conquistavam as mentes das pessoas imediatamente.

O Mestre disse para Hriday (seu sobrinho): 

“Você deve ter paciência comigo, e eu devo ter paciência com você, assim, tudo ocorrerá bem. De outro modo, teremos que chamar o gerente para tratar de nossas diferenças”.

Swami Ishanananda nos contou essa história maravilhosa sobre a presença de espírito da Mãe, seu forte bom senso e a habilidade de se ajustar de acordo com o momento e a situação.

“No inverno de 1919, Santa Mãe foi de Calcutá para Vishnupur de trem e depois, utilizando seis carros de boi, foi para Koalpara. No caminho, paramos em Jaipur a pouco mais de doze quilômetros de Vishnupur e começamos a cozinhar em uma pousada à beira da estrada. O cozinheiro começou a preparar o ‘dal’, um ensopado de lentilhas. A Mãe estava feliz ao ver os preparativos. Ela lavou as mãos e os pés no lago próximo e depois ajudou a cortar os legumes. A maior parte da comida já estava pronta quando o cozinheiro quebrou a panela de barro com o arroz enquanto removia um pouco da água em excesso. O arroz cozido se espalhou pelo chão. O que fazer? Estávamos em um dilema. Pensamos que se comprássemos outra panela para cozinhar mais arroz, ficaria muito tarde para chegar a Koalpara, e além disso, a estrada não era segura. Ainda tínhamos que percorrer vinte e dois quilômetros.

A Mãe não se aborreceu nem um pouco. Lentamente, Ela removeu a parte mais molhada e recolheu o arroz que estava por cima. Então,  lavou as mãos, tirou um retrato do Mestre de dentro de sua caixa de metal e o colocou em cima da lata. Ela pegou uma folha de uma árvore de ‘shorea’, colocou nela um pouco de arroz, ‘dal’ e legumes  e depois a colocou na frente do Mestre. Com as mãos postas, Ela rezou: ‘Mestre, você preparou esta comida para nós hoje. Por favor, coma rápido enquanto ainda está quente’.

Ela rezou: ‘Mestre, você preparou esta comida para nós hoje. 

Por favor, coma rápido enquanto ainda está quente’.

Ao notarmos o comportamento não convencional da Mãe, começamos a rir. Ela, então, nos disse: ‘Vejam, precisamos agir de acordo com o momento. Agora, todos vocês se sentem que vou servir a comida’. As companheiras da Mãe e nós nos sentamos no chão. Ela pegava a parte de cima do monte de arroz  com uma colher de madeira e colocava em nossos pratos de folha um após o outro, e depois colocava os outros alimentos. Ela também se serviu do mesmo modo e começou a comer, estendendo as pernas. Ela comentou: ‘A comida está uma delícia’. Apressadamente, terminamos o almoço, arrumamos as malas e continuamos a viagem. Chegamos ao Ashrama de Koalpara às onze da noite.”

Problemas na vida espiritual


Um discípulo monástico da Mãe estava passando por um período ruim, pela “ noite escura da alma”. Ele parou de visitá-la, ainda que morasse a apenas  algumas quadras da casa da Mãe em Udbodhan. Finalmente, ele Lhe escreveu uma carta pedindo para que Ela pegasse de volta o mantra que tinha dado a ele. A Mãe mandou chamá-lo. Quando ele chegou, Ela disse: “Veja, filho, o Sol fica alto no céu e a água permanece na Terra. A água grita para o sol pedindo: ‘Ó Sol, por favor, me leve para cima’? É da natureza do Sol levar a água para cima na forma de vapor. Eu te certifico que você não terá que praticar nenhuma disciplina”. Que certificação! Isso se parece com a ‘procuração’ que Sri Ramakrishna aceitou de Girish Gosh.

Como nossas mentes são agitadas, não conseguimos obter  paz. Isso é um problema universal. Com grande angústia, um discípulo reclamou para a Mãe: “Mãe, remova minha agitação interna ou retire o mantra”. Ela ficou tão tocada pelo sofrimento de seu discípulo que seus olhos se encheram de lágrimas, e Ela falou ardentemente: “Tudo bem, você não terá que repetir mais o mantra”. Tais palavras o assustaram, ele pensou que sua relação com Ela tinha acabado para sempre. Ele lhe disse com muita ansiedade: “Você tirou tudo de mim! O que vou fazer agora? Isso quer dizer que vou para o inferno?”. A Santa Mãe repondeu com a voz agitada: “O que você diz? Você é meu filho, como poderia ir para o inferno? Aqueles que são meus filhos já estão livres. Nem mesmo a Providência poderá mandá-los para o inferno”.

Muitos aspirantes sofrem com  dúvidas e confusão na vida espiritual. Swami Basudevananda teve o mesmo problema. Ele recorda: “Uma vez, voltei para Udbodhan vindo de Noakhali (agora em Bangladesh), após conduzir um serviço de assistência humanitária. Perguntei à Mãe: ‘Algumas vezes fico confuso e não encontro ninguém por perto para tirar minhas dúvidas. O que devo fazer?’. A Mãe lhe respondeu: ‘Mantenha uma figura do Mestre sempre com você, e pense que Ele está com você e cuidando de você. Se tiver qualquer pergunta, reze para Ele. Você verá que Ele te mostrará a solução em sua mente. Ele está sempre dentro de você. Devido à mente estar voltada para o exterior, as pessoas não olham para dentro. Elas o procuram do lado de fora. Quando você reza por algo, e se isso for absolutamente necessário para você, você encontrará a resposta chegando como um lampejo. Se qualquer pessoa rezar ao Mestre com todo o coração, Ele ouvirá e preparará tudo de acordo. É necessário dizer algo vinte vezes a um cavalheiro?’.”

A Mãe respondeu: 

‘Mantenha uma figura do Mestre sempre com você, e pense que Ele está com você e cuidando de você. Se tiver qualquer pergunta, reze para Ele. Você verá que Ele te mostrará a solução em sua mente. Ele está sempre dentro de você. 

Problemas ao controlar a mente


A diferença entre uma pessoa sã e uma insana é que a primeira tem controle sobre suas emoções e a segunda  não. É fácil controlar uma mente pura. A Mãe sugeriu vários métodos para discípulos diferentes. Ela dizia: “Meu filho, esta mente é como um elefante selvagem. Ela corre com o vento. Por isso, é preciso discernir o tempo todo. Deve-se trabalhar duro para a realização de Deus”.

“Meu filho, esta mente é como um elefante selvagem. Ela corre com o vento. Por isso, deve-se discriminar o tempo todo. Deve-se trabalhar duro para a realização de Deus”. 

Discípulo: “Não consigo concentrar minha mente durante a meditação. Minha mente fica inconstante e instável.”


Mãe: “Não se preocupe. A agitação é da natureza da mente, assim como  também o é dos olhos e ouvidos. Pratique regularmente. O Nome de Deus é mais poderoso que os sentidos. Sempre pense no Mestre, que está cuidando de você. Não se aborreça com suas falhas.”

Discípulo: “Por mais que eu tente remover os pensamentos ruins, não sou bem-sucedido.”


Mãe: “Isso é resultado do que você fez na vida passada. Pode-se livrar-se disso à força? Cultive a boa companhia, tente ser bom e, no tempo certo, você será bem-sucedido. Ore ao Mestre. Eu, também, estou aqui.”


“Não tenha medo.  Digo  a você que nesta Era de Kali , o pecado da mente não é um pecado. Liberte sua mente de todas as preocupações quanto a isso. Alguém consegue destruir totalmente a luxúria? Um pouco dela resiste enquanto durar o corpo. Mas ela pode ser subjugada, assim como uma cobra é subjugada por encantamentos poderosos.”


Às vezes, a Mãe inspirava seus discípulos ao  lhes contar como Ela praticava suas disciplinas espirituais, ‘sadhana’. Ela dizia: “Nos dias de luar, eu olhava para a Lua e rezava: ‘Que minha mente seja pura como os raios da Lua! Ó Senhor, há manchas até mesmo na Lua, mas faça com que a minha mente seja absolutamente sem manchas’”.


“Quando estava em Vrindavan, costumava visitar Bankubihari, ou seja, Krishna em uma postura curvada, e rezar para Ele: ‘Sua forma é curvada, porém Sua mente é reta. Senhor, que não haja nada tortuosidade em minha mente’.”

‘Sua forma é curvada, porém Sua mente é reta. 

Senhor, que não haja nada tortuosidade em minha mente’.

Problemas na vida de chefe de família


Algumas pessoas perguntam se a vida de casado é antagônica à vida espiritual. Muitos Rishis antigos eram casados, e também avatares como Rama, Krishna, Chaitanya e Ramakrishna. O Tantra Mahanirvana diz: “Os chefes de família devem conectar suas vidas com Brahman e tentar realizá-Lo. Os resultados de qualquer ação que fizerem, devem ser oferecidos a Brahman, o Absoluto”. Ramakrishna e a Santa Mãe tinham tanto discípulos monásticos quanto chefes de família. Eles adaptavam seus ensinamentos para cada indivíduo e demonstravam que cada caminho leva ao mesmo objetivo. 

Um jovem, por renúncia temporária, expressou sua relutância em se casar. A Mãe disse para ele: “Por que isso? Deus criou as coisas em pares - dois olhos, dois ouvidos, duas pernas - e também o homem e a mulher”. Para alguém hesitante com relação ao casamento, a Mãe dizia: “Por que não se pode levar uma boa vida sendo casado? Tudo reside na mente. O Mestre não se casou comigo?”.


“Os chefes de família não precisam praticar uma renúncia externa. Eles terão uma renúncia interna espontaneamente. O Mestre dizia: ‘Deve-se praticar o autocontrole após o nascimento de um ou dois filhos’. O progresso espiritual vem de maneira mais fácil para marido e esposa que concordam sobre as práticas espirituais.”

“Os chefes de família não precisam ter renúncia externa. 

Eles terão renúncia interna espontaneamente."

Com relação a ganhar dinheiro e acumular, a Mãe dizia: “Você tem sua esposa e filhos. Deve reservar algo para eles. Além disso, você também poderá servir às pessoas santas. A casa é do Senhor, e seja lá em qual função Ele o tenha  colocado, você deve fazer o seu melhor e executá-la bem. Se tristezas e problemas te assolarem, chame o Mestre e Ele lhe mostrará o caminho”.

Problemas na vida monástica


A Santa Mãe, assim como Ramakrishna, sempre manteve o ideal da renúncia diante de seus discípulos monásticos. A vida monástica não é um caminho fácil. Quando os monges iam até a Mãe com seus problemas, Ela os advertia sobre o que o Mestre costumava dizer: ‘Ó, asceta (sadhu), atenção!’. Os Sadhus devem estar sempre alertas. O caminho de um Sadhu é sempre escorregadio. Quando se está em um chão escorregadio, deve-se andar com muito cuidado. É fácil se tornar um renunciante, um Sannyasin? Se quisesse, ele (o renunciante) poderia ter se casado e vivido a vida de um chefe de família. Agora que vocês abandonaram tais intenções, a mente não deve pensar mais em tais assuntos. Aquilo que foi cuspido não pode ser comido de novo. O manto ocre de um Sadhu o protege como a coleira de um cachorro o protege do perigo. Ninguém destrata um cão que está com coleira, já que, obviamente, ele pertence a alguém. Todos os portões se abrem para um Sadhu. Ele tem acesso a todos os lugares”.

O Mestre dizia: ‘Ó, asceta, Sadhu, atenção!’. Os Sadhus devem estar sempre alertas. 

O caminho de um Sadhu é sempre escorregadio. Quando se está em um chão escorregadio, deve-se andar com muito cuidado. 

É fácil se tornar um renunciante, um Sannyasin?

Desejo e ouro são ilusórios, são ‘Maya’. Não é fácil superar Maya. Assim como uma mãe amorosa, Ela dizia aos monges enfaticamente: “Um monge não deve diminuir o ideal da renúncia. Ainda que uma imagem de madeira de uma mulher esteja no meio da estrada, ele não deve se virar em sua direção, nem mesmo com a ponta dos pés, para olhar para ela”.


“É extremamente perigoso para um monge possuir dinheiro. Não há nada que seja impossível para aquelas peças redondas fazerem, até mesmo colocar a vida em perigo.”


“Um monge deve cortar todas as correntes de Maya. As correntes de ouro aprisionam tanto quanto as de ferro. Um monge não deve ter apegos.”

Problemas variados na vida humana


Após Ramakrishna ter falecido, a Mãe conduziu o sacerdócio dele por trinta e quatro anos. Ela era uma mulher de aldeia sem qualquer educação formal, porém  ajudou inúmeras pessoas e resolveu os problemas delas por meio  de seu amor, compaixão, paciência, tolerância, sabedoria divina e praticidade. Os discípulos do Mestre aceitavam as instruções dela sem questionar. Quando Swami Vivekananda entrou em um dilema a respeito de sua viagem ao Ocidente, ele escreveu para a Mãe buscando conselhos. Ela pediu para que ele fosse. Os discípulos sabiam que a Mãe e o Mestre eram o mesmo.

Alguns monges que não se encaixavam nos centros assim como outras pessoas que tinham problemas mentais, tomavam refúgio na casa da Santa Mãe. Por exemplo, sua cunhada, Surabala, era louca, e sua sobrinha, Radhu, também não era normal. É muito surpreendente a maneira como Ela lidava com todas essas personalidades diferentes com seu amor e compaixão.


Um dia, uma devota mordeu o dedão do pé da Mãe enquanto se despedia dela. A Mãe deu um grito: “Deus amado! Que tipo de devoção é essa? Se você quer tocar meus pés, por que não o faz? Por que mordeu meu dedo?”. A devota respondeu: “Quero que você se lembre de mim”. “Com certeza!”, respondeu a mãe, “eu nunca vi algo assim para me fazer lembrar de um devoto”. Uma outra vez, um devoto saudou a mãe batendo  com a testa em seu dedo do pé, de maneira tão violenta, que ela gritou de dor. Os que estavam presentes perguntaram ao devoto porque ele tinha feito aquilo. Ele respondeu: “Eu Lhe causei dor de propósito enquanto a saudava para que Ela se lembre de mim enquanto a dor durar”. 

Ele respondeu: “EuL he causei dor de propósito enquanto a saudava para que Ela se lembre de mim enquanto a dor durar”. 

O Dr. Kanjilal era discípulo e médico da Mãe. Um dia, a esposa dele orou à Mãe: “Mãe, por favor dê suas bênçãos para que os ganhos de meu marido aumentem”. A Mãe respondeu sem rodeios: “Você quer que eu deseje que as pessoas fiquem doentes e que sofram? Com certeza, jamais poderei fazer isso. Rezo para que todos possam estar bem, para que estejam todos felizes”.


Seu amor inegoísta era derramado sobre todos aqueles que iam até Ela pedindo por socorro, independente de casta ou credo, mérito ou demérito. Ela os ajudava com alimentos, roupas ou remédios, de acordo com a necessidade. Enquanto Ela estava em Koalpara, uma mulher de baixa casta veio aflita até Ela buscando sua ajuda. Ela tinha sido abandonada por seu amante, por quem havia deixado sua própria casa, e agora estava completamente desamparada. A Santa Mãe mandou chamar o homem e gentilmente o repreendeu: “Veja, ela abandonou tudo por sua causa e você aceitou os serviços dela por muito tempo. Será um grande pecado você rejeitá-la agora, não haverá espaço para você nem mesmo no inferno”. O casal se reconciliou.

Muitos muçulmanos viviam em uma aldeia perto de Jayrambati chamada Shiromanipur. Eles sobreviviam do cultivo do bicho-da-seda. Quando seus negócios fracassaram por causa da competição estrangeira, muitas pessoas perderam seus empregos e se voltaram par o crime como sustento. Quando a casa nova da Mãe estava sendo construída em Jayrambati, os monges contrataram mão-de-obra muçulmana ali de perto. Os residentes de Jayrambati ficaram com medo no começo, mas depois ficaram impressionados com a transformação. A Mãe os alimentava e os ajudava nos problemas econômicos. Os residentes comentavam: “Vejam, aqueles ladrões se tornaram devotos devido à Graça da Mãe”.

Um discípulo da Mãe escreveu: “Os pobres daqui sofrem quando a Mãe não está em Jayrambati. Quando está aqui, Ela compra leite, legumes e frutas que os moradores  cultivam em seus campos. Assim, eles ganham um pouco de dinheiro. Mas, quando a Mãe vai para Calcutá, eles não podem vender os produtos. Por este motivo,  a Mãe visita Jayrambati”. Ela era uma jovem da aldeia e por isso não gostava muito da vida sofisticada da cidade de Calcutá. Ela gostava de circular livremente em sua aldeia, mas quando estava lá, tinha que resolver os problemas das famílias de seus irmãos.


Algumas doenças são curadas naturalmente pelo próprio sistema do corpo humano, mas o remédio de um médico pode curá-las mais rapidamente. Do mesmo modo, embora o tempo cure muitas coisas, as almas iluminadas têm o poder de resolver as dificuldades humanas prontamente e de forma decisiva. A Santa Mãe era simples e pura, amorosa e cuidadosa, inegoísta e compassiva, tolerante e  concessora do perdão. Todos se sentiam a salvo e seguros em  Sua presença.

Swami Ishanananda nos contou como a Santa Mãe aliviou a tristeza de uma pobre mulher que tinha perdido o filho jovem:

“Eu estava  morando com a Mãe em Jayrambati. Um dia, contratei uma senhora carregadora para levar algumas compras para a Mãe. Chegamos em Jayrambati às dez da manhã. Ela retirou os pacotes da cabeça e se curvou à Mãe. A Mãe a conhecia porque ela levava as bagagens de devotos de Calcutá e Koalpara para Jayrambati. A Mãe perguntou: ‘Olá, esposa de Majhi, faz tempo que não te vejo. O que aconteceu?’. Ela respondeu com a voz triste: ‘Mãe, agora estou passando por um momento muito difícil. Eu ando de um lado para  outro para ganhar a vida, por isso seus devotos não me encontram mais para carregar suas bagagens. Poucos dias atrás, meu filho morreu, ele era o provedor da família’.”

“A Mãe respondeu: ‘Que triste notícia, querida!’. Imediatamente, os olhos da Mãe ficaram marejados. Recebendo a empatia da Mãe, a senhora chorou. A Mãe sentou em sua varanda, colocou a cabeça numa viga e começou a chorar muito. Ouvindo o choro delas, outras mulheres da casa correram até lá e assistiram a esta cena emocionante em silêncio. Assim passou um tempo. Depois, quando a emoção delas diminuiu, a Mãe pediu docemente para sua atendente trazer óleo de coco. Ela colocou aquele óleo no cabelo seco e desalinhado da mulher, e o massageou com as mãos. A Mãe também prendeu arroz inflado uma espécie de pipoca de arroz, e rapadura  na barra da roupa dela e, enquanto se despedia, lhe disse com os olhos marejados: ‘Por favor, venha novamente, minha filha’. Observando o rosto daquela mulher, percebi o quanto consolo ela obteve com o comportamento compassivo da Mãe.”

Ela disse com os olhos marejados: ‘Por favor, venha novamente, minha filha’.

TRADUTOR - MARIÂNGELA CARVALHO

Revista Vedanta   

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