​PRINCÍPIOS E PROPÓSITO DA VEDANTA - Ramakrishna Vedanta Ashrama

09.07.2023 22:06 Por Ramakrishna Vedanta Ashrama

PRINCÍPIOS E PROPÓSITO DA VEDANTA

​POR SWAMI PARAMANANDA
Swami Paramananda Vedanta


Swami Paramananda (1884-1940), um discípulo de Swami Vivekananda, foi um dos 

pioneiros na divulgação da Vedanta no Ocidente.


Este texto é tradução do original em Inglês “Principles and Purpose of Vedanta” 

edição de 1910. 



Introdução


Um princípio verdadeiro é aquele que não pode ser influenciado pelo tempo, espaço ou causalidade. Qualquer verdade fundamental pode suportar igualmente o teste de todas as épocas, pois a verdade é auto-existente e não é limitada ou dependente de estado, nação ou autoridade individual. Nem pode ser propriedade exclusiva de qualquer povo ou período. “Não há verdadeira existência no que é irreal e o real jamais pode ser inexistente; os Sábios da Verdade conhecem a natureza de ambos (Bhagavad Gita)”. Portanto qualquer verdade que brilhou no passado remoto será igualmente verdadeira hoje e nas eras que virão. Qualquer cultura, seja física, mental ou espiritual, que foi conseguida uma vez pelos esforços humanos, será sempre atingível por outros que virão depois.


A verdade permanece, não por vãs declarações ou imaginações, mas pelo testemunho dos sábios Profetas de todas as épocas e climas. Portanto, por mais vago ou apagado um ideal possa tornar-se, ele não pode morrer, mas revela-se repetidas vezes através de poderosos caracteres, que buscam a realização do real. Nem mesmo uma simples verdade é perdida jamais. Ela pode por um tempo ficar escondida sob a superstição ou preconceito, mas brilhará com efulgência novamente quando a oportunidade certa chegar. Deste modo os princípios fundamentais dos Vedas, a religião e filosofia iluminada dos Arianos, podem ter sido diminuídos e considerados como meras lendas, mas por isso teriam sido menos efetivos para guiar as almas humanas à meta última da verdade e sabedoria?


A Vedanta e Sua Origem


Vedanta origina-se de duas palavras sânscritas, Veda (sabedoria) e anta (fim), e significa “fim da sabedoria” ou suprema sabedoria. É o nome dado aos ensinamentos dos Vedas, que têm sido transmitidos a nós desde tempo imemorial. A característica especial da Vedanta é que ela é livre de todas as idéias exclusivas e sectárias e por essa razão tem espaço infinito para a tolerância. Não é baseada em qualquer personalidade, mas em princípios; portanto é propriedade comum de toda a raça humana. O estudo sincero, desta forma, nos capacita a reconhecer que todos os ensinamentos morais e espirituais das filosofias dos Gregos, Alemães e outras, não são novos ou originais, mas são encontrados na Vedanta; pois a Vedanta em si mesma é a revelação dos princípios fundamentais do universo. 

Vedanta origina-se de duas palavras sânscritas, Veda (sabedoria) e anta (fim), e significa “fim da sabedoria” ou suprema sabedoria. É o nome dado aos ensinamentos dos Vedas, que têm sido transmitidos a nós desde tempo imemorial.

Ela surge, não de qualquer ser humano, mas de uma fonte divina. Ela não representa qualquer livro ou doutrina especial, mas explica os fatos eternos da natureza. Ela permanece como o registro da percepção espiritual direta dos antigos Rishis ou Profetas da Verdade, que não foram os fundadores de uma religião ou filosofia, mas os reveladores das leis eternamente existentes do universo. Como a lei da gravidade não se originou com Sir Isaac Newton, assim também estas leis não se originaram com os Rishis, mas têm existido desde o início do tempo e tinham sem dúvida sido descobertas por prévios Profetas da Verdade, pois os Vedas como os conhecemos estão cheios de referências à ainda mais antigas autoridades. Assim vemos que os princípios da Vedanta seguem em linha paralela com a própria criação e como a criação é eterna, são também assim estes princípios.

Ela surge, não de qualquer ser humano, mas de uma fonte divina. 

Ela não representa qualquer livro ou doutrina especial, mas explica os fatos eternos da natureza. 

Concepção de Deus


Como fonte de todos estes princípios, a Vedanta reconhece um Ser Supremo, uma lei, uma essência, a quem os sábios chamam de Satchidanandam, “Existência Absoluta, Conhecimento absoluto, Bem-aventurança Absoluta.” A partir desta substancia única manifesta-se estes múltiplos fenômenos. “Ele é o cordão no qual as diferentes pérolas de várias cores e formas estão amarradas juntas.” Deus, o Absoluto, é este cordão ou essência. Ele mora no coração de todos os seres como consciência; do menor átomo ao maior dos mortais, Ele está presente em tudo. Nele nós vivemos, nos movemos e temos o nosso ser. Sem Ele não pode haver nada. Ele é o Um sem um segundo. Não pode haver mais do que um Ser infinito, pois infinito significa sem limite, sem uma segunda coisa. Tal é a concepção védica de Deus e a realização deste Deus é a meta última de seu ensinamento. 

Satchidanandam significa “Existência Absoluta, Conhecimento absoluto, 

Bem-aventurança Absoluta.”

Deus Pessoal e Impessoal


Apesar de que o Ser Supremo é Um, Ele aparece diante de nós em muitas formas. Como está dito no Rig-Veda, “A Verdade é única, os homens sábios A chamam de vários nomes (e A adoram de diferentes formas de acordo com sua compreensão).” Aqui jaz o segredo da tolerância, que constitui a especial característica da Vedanta. Um Ser Infinito deve ter infinitos caminhos que levam a Ele. Estes infinitos nomes, formas e caminhos existem para se adequar as várias tendências de Seus inumeráveis filhos. Portanto Ele é algumas vezes pessoal e algumas vezes impessoal. Aqueles que buscam realizar a Ele como um ideal impessoal e abstrato, seguindo o caminho da discriminação filosófica, O veem no Ser e veem o Ser em todos os seres. Através disto eles transcendem todas as limitações humanas e encontram a paz e felicidade absoluta na unidade.


“Quando o conhecedor do Ser vê todos os seres dentro de si mesmo, como poderá haver mais sofrimento ou ilusão para ele que vê esta unidade?” (Upanishads) 

Quando o conhecedor do Ser vê todos os seres dentro de si mesmo, como poderá haver mais sofrimento ou ilusão para ele que vê esta unidade?” (Upanishads) 

Para aqueles que não podem seguir o ideal abstrato, Ele aparece como um Deus pessoal, um Deus de infinito amor, infinita beleza, a fonte de todas as benditas qualidades. Com estes Ele estabelece a relação pessoal de Mãe amorosa, Pai amoroso, Filho ou Amigo; e aquele que sinceramente luta através deste caminho de adoração pessoal com amor e devoção verdadeiros, também atinge a realização do Supremo. Para isto deve ser sempre lembrado que a adoração de Deus Pessoal ou Impessoal leva-nos a mesma meta. “Qualquer um que venha a Mim (o Senhor) por qualquer caminho, Eu vou a ele. Todos estão lutando através de caminhos que ao final chegam a Mim.” (Bhagavad Gita) 

A Relação do Homem com Deus


De acordo com o ensinamento da Vedanta, esta realização de Deus ou reconciliação com Ele, é a meta da vida humana; mais ainda, é nosso direito inato. O esquecimento de nossa verdadeira natureza ou Divindade é a fonte de todo o sofrimento. Não há diferença real entre Jivatman (ser individual) e Paramatman (Ser Supremo), exceto que o indivíduo cobriu-se de limitações na forma de nome, forma e várias qualidades, enquanto que o Ser Supremo mora além destas. É o mesmo espírito consciente que existe em ambos; apenas que em um caso ele brilha parcialmente, devido às limitações, enquanto que no outro ele brilha livre e completamente. Portanto quando pela pureza e sabedoria o homem encontra seu Ser real, então este véu cai e homem e Deus tornam-se um e inseparáveis. “O conhecedor de Brahman (Verdade) torna-se um com Ele;” ou como Jesus disse, “Eu e meu Pai somos um”. 

“O conhecedor de Brahman (Verdade) torna-se um com Ele;” 

ou como Jesus disse, “Eu e meu Pai somos um”. 

Esta relação do homem com Deus tem sido claramente estabelecida em um dos Upanishads assim: “Dois inseparáveis \ 5 pássaros de plumagem dourada estão sentados na mesma árvore; um deles come os frutos da árvore, algumas vezes doces e outras vezes amargos; o outro pássaro, não provando os frutos, senta-se logo acima como uma testemunha, calmo, majestoso e mergulhado em sua própria glória. Assim também o Jiva (Ser individual) e Deus (Ser Supremo) estão sentados na árvore da vida. O Jiva, depois de provar os diferentes frutos da experiência, doces e amargos, e sofrendo com sua própria impotência, torna-se perplexo; mas quando ele olha para o outro pássaro – o Senhor, contempla Seu poder e realiza que eles são realmente um, então seu sofrimento e ilusão desaparecem. Esta visão do Ser remove todo sentido de dualidade e o Único brilha só como o infinito, onipotente Ser. 

O homem jamais será subtraído de seu direito por nascimento. Nenhuma quantidade de más ações jamais poderá destruí-lo. Suas más ações podem causar ilusão e fazê-lo sofrer, mas depois de passar por muitas experiências, doces e amargas, com certeza ao final encontrará sua divindade e estará livre de toda a escravidão. 

Lei do Karma

Apesar de que todos nós possuímos o mesmo germe da divindade dentro de nós, não somos todos iguais. Qual a causa destas diferenças? Por que uma pessoa nasce feliz e a outra miserável, uma é inteligente e a outra estúpida? A diferença está no grau de manifestação ou desenvolvimento do mesmo divino poder, que faz alguém grande em sabedoria e o capacita a ir através das variadas condições da vida com coragem e serenidade, enquanto outro, cuja mente está coberta por um véu, constantemente comete erros e sofre. Deus não envia felicidade para uma alma e sofrimento para outra arbitrariamente. “O Todo-Penetrante não compartilha nem do mal ou do bem de qualquer criatura. A sabedoria está coberta pela ignorância, assim os mortais são iludidos.” 

“O Todo-Penetrante não compartilha nem do mal ou do bem de qualquer criatura. A sabedoria está coberta pela ignorância, assim os mortais são iludidos.” 

Os Hindus não culpam uma Providência invisível por todo sofrimento neste mundo, mas o explicam através da lei natural de causa e efeito. Se um homem nasce afortunado ou infeliz, deve haver alguma razão para isto. Se, contudo, não podemos encontrar a causa para isto nesta vida, deve ter ocorrido em alguma existência prévia, pois nenhum efeito é possível sem uma causa. Todo o bem que chega a nós é o que ganhamos através de nosso próprio esforço; e qualquer mal que haja é o resultado de nossos próprios erros passados. Como nosso presente tem sido moldado pelo nosso passado, assim também nosso futuro será moldado pelo nosso presente. Isto trás grande esperança e conforto, pois o que nós mesmos fazemos, também podemos desfazer. Por isso, ao invés de nos afligirmos sobre os erros passados, se dirigirmos nossas energias atuais com um anelo de todo o coração para neutralizar os resultados das ações passadas, podemos fazer nosso futuro melhor e mais brilhante.


Esta é a lei do Karma, que levando em consideração todas as diferenças entre os seres humanos como algo natural, não faz de Deus parcial ou injusto. 

Recompensa ou Punição


A ideia de recompensa ou punição também surge desta lei. O que plantamos, devemos colher. Não pode ser de outro modo. Uma macieira não pode ser produzida de uma semente de manga, nem uma mangueira de uma semente de maçã. Se alguém gasta toda sua vida em maus pensamentos e más ações, então é inútil para ele procurar a felicidade para depois desta vida, pois nossa vida futura não é uma questão de acaso, mas ela virá como reação (ou resultado) de nossa ação atual. Da mesma forma um homem de ações virtuosas deve colher como seu resultado a felicidade, que ninguém pode tirar dele. A natureza do pecado, que pode ser definida como a soma total de todos os pensamentos e ações egoístas e malvadas, é fazer o véu que nos separa de Deus mais espesso. 

A natureza da virtude é fazer deste véu mais e mais fino. E como Deus é a fonte de toda bem-aventurança, o primeiro (pecado) deve trazer inevitavelmente sofrimento físico e mental enquanto que o segundo (virtude) deve trazer paz e felicidade.


Não devemos, contudo, perder de vista o fato de que todas as ideias de recompensa e punição existem no plano da relatividade e transitoriedade. Nenhuma alma pode jamais ter a danação eterna através de suas finitas más ações; pois a causa e o efeito devem ser sempre iguais. Assim vemos que através do bom senso a teoria da perdição eterna e do paraíso eterno é impossível e ilógica, visto que nenhuma ação finita pode criar um resultado infinito. Por isso, de acordo com a Vedanta, a meta da humanidade não é prazer ou dor temporal, mas Mukti ou liberdade absoluta e cada alma está consciente ou inconscientemente marchando em direção a sua meta através das várias experiências de vida e morte. 

Mukti ou liberdade absoluta e cada alma está consciente ou inconscientemente marchando em direção a sua meta através das várias experiências de vida e morte. 

Reencarnação


A teoria da evolução está inteiramente baseada na lei do Karma, pois é evidente que algo não pode evoluir do nada. Esta lei também oferece uma explicação satisfatória e lógica para todas as tendências mentais e físicas que temos ao nascer. Sempre que um homem nasce com qualquer poder extraordinário e sabedoria, saiba que ele o possuía mesmo antes de vir a este corpo; pois não adquirimos qualquer poder ou qualidade acidentalmente, mas todo nosso conhecimento e habilidade estão baseados em experiências passadas ou séries de causas. Assim também é com aquele que desde seu nascimento é desprovido de um físico ou faculdades intelectuais adequadas. 

De acordo com a teoria da Reencarnação, todas as almas passam através de várias experiências de nascimentos e renascimentos até que atinja sua perfeição original. Cada vez que uma alma nasce aqui traz consigo o fruto de todas suas existências prévias, que determina seu caráter e ambiente nesta vida. Visto que estes são o resultado do próprio esforço do homem, não pode ser dito que herda suas tendências virtuosas ou viciosas de seus pais, mas as almas são atraídas para aquele ambiente que está de acordo com seus méritos e melhor adequado para o seu crescimento. Além disso, como os iguais se atraem, nós frequentemente encontramos filhos e pais semelhantes uns aos outros. 

 Cada vez que uma alma nasce aqui traz consigo o fruto de todas suas existências prévias, que determina seu caráter e ambiente nesta vida.

A Vedanta reconhece que a teoria da evolução não está completa se confinada apenas aos fenômenos materiais. Ela deve também se estender pelos planos superiores da consciência espiritual do homem. Cada indivíduo tem dentro de si o germe da perfeição, e este não atinge seu total desenvolvimento ao se conseguir um corpo humano ou no período de uma vida. Por isso é necessário para a alma encarnada continuar a evoluir através de múltiplas experiências de prazer e dor até que este germe atinja a manifestação total de sua consciência espiritual. O objetivo de nossa vinda como seres humanos é atingir o autoconhecimento e quando isto é conseguido as correntes da escravidão se quebram para sempre, o homem tornase divino e não terá que vir aqui novamente como um escravo. A teoria da Reencarnação, como vemos, não é nada mais do que a teoria da evolução levada à sua conclusão lógica. 

A Imortalidade da Alma


A imortalidade da alma é outro princípio fundamental da filosofia Vedanta. O Ser do homem não está sujeito à mudança, mais ainda, não nasce jamais e é imortal. Nascimento, morte e tudo o que se encontra no intervalo disso, têm a ver apenas com o corpo físico, que tem um início e deve necessariamente ter um fim. Eles não tocam a alma. “O Ser não nasce, nem Ele morre, mesmo existindo não cessa de existir. Não-nascido, eterno, imutável, sempre existente, Ele não é destruído quando o corpo é destruído.” (Bhagavad Gita)

O Ser do homem não está sujeito à mudança, mais ainda, não nasce jamais e é imortal.

O corpo decai, mas não a alma, que apenas mora dentro do corpo e o permeia com vida e consciência, que não é maculada por qualquer ação ou condição corpórea, assim como o sol não é afetado pela janela coberta de poeira através da qual ele brilha. Para um verdadeiro Sábio o corpo é apenas uma moradia ou um instrumento que ele usa para a realização de seu estado original de consciência de Deus. A morte não é nada senão ir de uma casa para outra, até que a alma liberte-se do apego às coisas efêmeras e ganhe sua libertação das correntes do Karma. O Karma não tem nenhum poder sobre o Ser real. Ele prende apenas o homem aparente ou externo, que se identifica com a natureza e assim cai sob a lei da ação e reação ou causa e efeito. Somente pela sabedoria o individuo pode transcender esta lei e erguer-se acima das dualidades de calor e frio, prazer e dor, e realizar sua natureza imortal. 

A ideia da imortalidade necessariamente pressupõe nossa préexistência, pois a eternidade não pode se estender apenas em uma direção. É evidente que aquilo que não tem fim não pode ter um início. Como esta vida atual será uma vida pré-existente para nossa vida futura, do mesmo modo, a vida atual deve ter sido precedida por outras vidas. O Ser é o mesmo sempre, no passado, presente e futuro; mas somente quando nosso coração se desenvolve percebemos Sua glória eterna e assim conquistamos nosso último inimigo, a morte. 

Yoga


A parte prática do ensinamento da Vedanta é chamada Yoga, que literalmente significa “juntar” ou união entre o ser inferior e o Ser Supremo. Ela oferece certos métodos para o treinamento da mente e do corpo para torna-los instrumentos adequados para a manifestação da perfeição já existente em todos os seres. Quando o limitado homem aparente descobre seu Ser interno ilimitado e se une com ele, torna-se iluminado. Jesus expressa a mesma ideia quando fala da “comunhão com Deus”. Este método de comunhão com o Divino é o que significa Yoga. Não há nenhum mistério nela, como muitos supõem. É uma ciência inteiramente baseada na observação e experiência direta de Yogis perfeitos, ou almas iluminadas, e é um sistema lógico e claro para o desenvolvimento de nossa natureza espiritual. Ela nos ensina como cessar de desperdiçar nossas energias desnecessariamente e como usá-las corretamente para nosso maior bem. Seu principal objetivo é unir todas as nossas forças físicas e mentais em uma forte corrente, que nos levará à realização do Supremo. 

A parte prática do ensinamento da Vedanta é chamada Yoga, que literalmente significa “juntar” ou união entre o ser inferior e o Ser Supremo.

Karma Yoga


Karma Yoga é o caminho da ação e nos ensina como executar todos os nossos deveres sem criarmos apego e dependência. A atividade é uma tendência inerente em todos os seres vivos, mas aprender a dirigi-la através do canal apropriado sem desperdício é a meta da Karma Yoga. Um seguidor fiel deste caminho trabalha como os outros, mas abandona todo o apego e desejo egoísta, portanto evita reação e sofrimento. Seu ideal é trabalhar pelo amor ao trabalho, sem qualquer outro motivo. Se um bom resultado (da sua ação) chega, ele não toma para si o crédito por isto, nem toma sobre si mesmo o descrédito se fracassar; mas oferece todos os frutos de suas ações, boas ou más, ao Senhor, que é o verdadeiro Autor de toda ação. Este é o segredo ensinado por Sri Krishna no Gita quando Ele diz: “Ao trabalho tu tens direito, mas não aos seus frutos.” Aquele que conhece este segredo, para ele todas as ações se tornam um ato de adoração e o conduz à Suprema Realização.

 “Ao trabalho tu tens direito, mas não aos seus frutos.” (Bhagavadgita)

Raja Yoga


A Raja Yoga nos ensina como controlar nossa natureza interna e externa. O primeiro passo é governar as forças que se manifestam através de nosso corpo físico e focalizá-las de forma única. Com isto nós conseguimos equilíbrio correto ou saúde perfeita em nossa natureza exterior. Saúde é absolutamente necessária para nosso crescimento espiritual, pois o corpo é o instrumento para a manifestação do espírito e se não estiver em condição apropriada, torna-se um obstáculo. Por isso os Yogis prescreveram certas posturas e métodos de respiração, através dos quais podemos purificar nosso sistema e prevenir doenças. 

A Raja Yoga nos ensina como controlar nossa natureza interna e externa. 

O próximo e mais importante passo é controlar nossa mente e sentidos, nossa natureza interna. Isto é feito através da prática da concentração e meditação. O estudo de Raja Yoga gradualmente nos conduz assim, das forças mais grosseiras às forças mais sutis de nosso organismo e nos mostra como trazê-las sob nosso controle e uni-las em uma única energia concentrada. O propósito disto, contudo, não é meramente conseguir saúde ou poder psíquico, mas ganhar absoluto autodomínio. 

Bhakti Yoga


Bhakti Yoga é o caminho do amor e da devoção. É o caminho mais natural para ser seguido, pois todos temos amor em nossos corações. Enquanto este amor for entregue às coisas mutáveis e efêmeras deste mundo, causará desapontamento, sofrimento e escravidão para nós. Mas quando ele é retirado destas coisas e voltado para Deus, então ele se torna Bhakti. Assim Bhakti Yoga nos ensina como podemos dirigir toda nossa emoção e sentimentos ao Supremo, que é a fonte de toda beleza e bem-aventurança. Visto que Ele é o Ser Único e Imutável, nele apenas podemos encontrar felicidade constante. Portanto Bhakti significa devoção a Deus; apego a qualquer objeto do mundo não é Bhakti. Este amor ideal é quase inconcebível enquanto houver sede por dinheiro, nome, fama, poder, ou prazeres sensórios; mas quando todo traço de egoísmo ou desejo mundano for apagado, realizamos que nada externo ou transitório pode satisfazer a fome de nosso coração e que Ele é o único objeto digno de ser amado. 

Bhakti Yoga é o caminho do amor e da devoção.  

Para um devoto Deus não é uma mera teoria ou ideal abstrato, mas um Ser real e vivo, com quem ele conversa intimamente e com quem tem uma relação definida, como filho, ou amigo, ou servo. Todas estas relações são estabelecidas para que possamos sentir que temos um direito sobre Deus e um sentido de proximidade com Ele. O amor tem um maravilhoso poder de união e quando este amor surge no coração do devoto ele sente o contato direto com o Ideal e todos os seus pensamentos, palavras e ações são oferecidas como um serviço ao Bem-amado. 

Jnana Yoga


Jnana Yoga é o caminho do discernimento filosófico e é especialmente adequado para aqueles de tendência intelectual. Sua meta é encontrar o espirito luminoso no interior, pois o Jnani não aceita qualquer outro Deus além de seu próprio Ser, que é o Ser de tudo. Isto é realizado pelo processo de “Neti, Neti” (Isto não, Isto não), ou distinguindo o real do irreal, o verdadeiro do falso. Para encontrar este ego cósmico ou Ser universal, ele primeiro remove todo egoísmo limitado, diferenciando-se do corpo, mente, sentidos e todos os objetos grosseiros deste mundo perecível. Isto pode ser feito apenas pela constante e rígida negação do ser inferior, mas aquele que persevera com anelo e determinação deixará gradualmente para trás de si todas as irrealidades do universo fenomenal e encontrará em seu interior seu verdadeiro Ser. Então será capaz de declarar com convicção “Eu sou Ele”, “Eu sou a Verdade”, “Eu sou o Absoluto Brahman”, “Eu e meu Pai somos Um”.

Jnana Yoga é o caminho do discernimento filosófico e é especialmente adequado para aqueles de tendência intelectual.

Isto não necessariamente significa que havendo quatro métodos distintos, não podemos combiná-los todos em nossa prática da Yoga. Nenhum caráter é perfeito na falta de algum destes. De fato, não podemos seguir um (Yoga) com sucesso sem a ajuda dos outros. Ninguém poderá ser um verdadeiro trabalhador sem discernimento, autocontrole e devoção a seu trabalho. Nem poderá alguém se tornar um verdadeiro seguidor do caminho do amor sem possuir uma atividade corretamente dirigida, um julgamento correto e autocontrole. Portanto todos estes devem seguir de mãos dadas. Mas em cada caráter uma tendência predomina invariavelmente e isto determina o caminho especial. Mas devemos ter em mente que todos estes caminhos levam a mesma meta. 

Universalidade da Vedanta


“Da mesma forma que diferentes córregos, tendo suas fontes em diferentes lugares, todos juntam suas águas no grande mar, de forma similar os diferentes caminhos que os homens seguem por diferentes tendências, por mais divergentes que possam parecer, retos ou cheios de curvas, todos levam a Ti, ó Senhor.”


Da forma mais crua de adoração simbólica a mais sublime concepção de verdade abstrata, todas as fases da religião têm um lugar na religião da Vedanta. Ela capacita um dualista a encontrar seu supremo ideal de auto entrega aos pés do Senhor; e também a um monista realizar seu verdadeiro Ser interno como o Ser de tudo, sem depender de nenhuma forma externa de Deus. 

“Da mesma forma que diferentes córregos, tendo suas fontes em diferentes lugares, todos juntam suas águas no grande mar, de forma similar os diferentes caminhos que os homens seguem por diferentes tendências, por mais divergentes que possam parecer, retos ou cheios de curvas, todos levam a Ti, ó Senhor.”

Um Ser Infinito deve ser com forma e sem forma. Os sábios O definem como Desconhecido e Não Conhecível, porque é impossível para a mente finita compreender o Infinito completamente. Por isso o ensinamento da Vedanta nunca rotula o caminho de Deus por um nome ou seita, mas reconhece a necessidade de inumeráveis formas de adoração apropriadas aos vários graus de desenvolvimento entre os seres humanos. Ela não interfere com qualquer modo natural de pensamento do homem, mas acelera seu crescimento dando a ele ajuda e simpatia onde quer que ele se encontre. Ela aceita todas as Escrituras Sagradas do mundo e reverencia todos os Salvadores e profetas. Acredita que o mesmo Evangelho da Verdade é pregado por todos, a única diferença é a da linguagem e não do significado essencial. Por isso, não existe lugar na Vedanta para o proselitismo. 

A Vedanta ensina a cada um como atingir o mais elevado em sua própria religião, mas diz a ele que deve permitir o mesmo privilégio ao seu irmão, que pode estar seguindo algum outro aparentemente diferente caminho. Na religião da Vedanta todos somos filhos de Deus e temos direitos iguais sobre Ele. Assim não há lugar para discórdias; mas vendo o único Divino Poder detrás de todas as formas de adoração, ela proclama a tolerância e assimilação universal, e a toda humanidade dá esta bênção:


“Que Ele que é o Pai nos Céus dos Cristãos, Allah dos Maometanos, Buddha dos Buddhistas, Ahura Mazda dos Zoroastrianos e a Divina Mãe e Brahman dos Hindus, dê a todos paz e bênçãos . Paz! Paz! Paz para nós e para todos os seres vivos!” 

“Que Ele que é o Pai nos Céus dos Cristãos, Allah dos Maometanos, Buddha dos Buddhistas, Ahura Mazda dos Zoroastrianos e a Divina Mãe e Brahman dos Hindus, dê a todos paz e bênçãos . Paz! Paz! Paz para nós e para todos os seres vivos!” 

Revista Vedanta   

Promovendo a espiritualidade e o encontro com o sagrado​ 

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